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sábado, 5 de janeiro de 2013

Filme: Sicko (2007)

Ao contrário da maioria das pessoas, eu curto um pouco a solidão. É quando fico sozinha que faço minhas melhores reflexões e crio pensamentos que me seguirão pelo resto da vida. Gosto da presença de outros ao meu redor, mas não troco pelo menos uma noite calma em casa por nada.
Ser uma pessoa extremamente reflexiva tem seus altos e baixos. É bom por que às vezes você consegue enxergar atrás do que chamam de "senso comum", aquilo que as pessoas nem ao menos se questionam sobre o por quê funciona assim. E também por que questionar e desenvolver teorias próprias em cima de comportamentos e fatos é bastante divertido. Porém, em outras situações, você pode entrar em overthinking - eu mesma acho que me percebo nessa condição repetidas vezes. Pensar muito e refletir sobre tudo pode trazer certa tristeza - principalmente quando você entende que a maioria das pessoas não está nem aí pra nada, não tem vontade de evoluir sua mentalidade e não se importa em nascer, morrer e ser esquecida no mar humanos que passou em branco por este mundo.
Eu acredito sim que a "ignorância é uma bênção" - por que quem é ignorante acaba sendo mais feliz por não analisar a fundo fatos e perceber ideologias - mas agradeço por não ser "abençoada".

Essa pequena introdução - e desabafo - não tem tanto a ver com a resenha que farei agora, mas foi nessa minha recente "onda pensante" que resolvi baixar e assistir vários documentários. Num só fim de semana vi Sicko, Tiros em Columbine, Fahrenheit 9/11 e Zeitgeist (os três primeiros do Michael Moore). Gostei muito de Sicko (falarei mais a seguir). Achei Tiros em Columbine genial (tenho muito interesse por casos como  Columbine e o pelo perfil psicológico das pessoas que cometem tais atrocidades), só acho que o aspecto psiquiátrico foi pouco abordado - porém a reflexão sobre o fácil acesso a armas nos EUA é excelente. Ainda farei uma resenha! Fahrenheit 9/11 foi bom, mas teria sido mais interessante se eu fosse americana. Zeitgeist achei um pouco exagerado... na terceira parte já estava meio enfadonho. E descobri que tem muitos furos nos fatos que o cara usa. Mas tem coisas que acho válidas no filme.

Bem, vamos a Sicko. Este documentário é uma crítica ao sistema de saúde americano. Eu já tinha ouvido sobre ele, mas foi o professor de Saúde Coletiva que recomendou em uma de suas aulas no terceiro período. Fiquei com vontade de assistir, mas só agora nas férias que lembrei de baixá-lo.
Pra qualquer um com cultura que vá além do que a Globo mostra, aquilo que é visto em Sicko não é surpresa. Nos EUA não há saúde pública - ou você paga seu tratamento, ou o "seguro saúde" paga pra você. Só que, como Michael mostra ao entrevistar várias famílias, fazer o seguro pagar o tratamento - ou mesmo consegui-lo de forma geral - é uma coisa muito difícil.
O filme começa com o exemplo de um senhor que não possui seguro e perde a ponta dos dedos médio e anelar da mão direita num acidente com uma serra elétrica. Quando chega ao hospital, são oferecidas a ele duas opções:  reimplantar o dedo médio por USD$60.000 ou o anelar por USD$12.000. Por querer continuar tendo seu dedo bonitinho para usar a aliança de casamento (e por ser muito mais barato, convenhamos), ele escolhe ficar com o dedo anelar.
Mas a maioria dos casos relatados não são sobre pessoas que não tem seguro, e sim sobre aqueles que o possuem mas tiveram o financiamento do tratamento que necessitaram. São todas situações bizarras - uma das que mais que chamou atenção foi de uma senhora que não conseguiu tratamento para seu tumor no cérebro por que alegaram que essa condição "não representava risco de vida". Ela acabou morrendo alguns meses depois.
Ao longo do filme, somos confrontados com muitos que perderam familiares pela falta de compromisso do seguro ou que vivem falidos hoje por que gastaram todo o seu dinheiro em despesas hospitalares. Há também médicos e ex-empregados dessas seguradoras relatando que tinham uma "cota" mensal de financiamento que podiam liberar, e que quanto menor ela fosse, maior a chance de serem promovidos. É muito bizarro mesmo.
Michael também relata o caso de uma moça com diagnóstico de câncer que vive na fronteira entre EUA e Canadá e se casa com um canadense para conseguir tratamento gratuito - já que o seguro lhe negou isso em seu país natal. (Aliás, em Tiros em Columbine Michael também mostra como morar no Canadá é legal, lá deve ser bom mesmo hahaha)
O filme nos leva a outros países que possuem um sistema de saúde pública exemplar também: Inglaterra, - com seu lindo NHS, e onde os hospitais te dão dinheiro caso você não tenha como voltar pra casa -  França - onde, se você não estiver se sentindo bem, pode ligar pra um hospital que vai um médico de carro até a sua casa te atender - e Cuba - onde ele leva de barco pessoas que trabalharam nos escombros do WTC e hoje possuem problemas respiratórios graves para se tratar, já que tiveram esse direito negado em seu país. Para quem conhece bem outros sistemas de saúde, nada disso é muito surpreendente - mas é interessante perceber que até Cuba, tão pixada na mente americana, tem muito mais a oferecer neste quesito que os EUA.
Uma coisa que realmente me deixou pasma no filme foi o fato de a maioria dos americanos ser extremamente contra a saúde pública. Isso eu até tinha noção - o que eu não sabia era o esforço do governo para manter tal mentalidade. Os políticos fazem discursos do tipo que os médicos vão morrer de fome (e aí Michael mostra o médico inglês que trabalha pro NHS como GP com seu carrão e seu apartamento num bairro chique de Londres), que o governo não vai deixar ninguém usar o sistema e que se você quiser algum remédio, não vai poder ganhá-lo. Chega a ser idiota, mas é assim. Lembrando que o Obama quase não foi reeleito devido à perda de popularidade que sofreu depois que começou a querer implantar um sistema de saúde gratuito.
No geral, o filme é bem legal, mas pra quem é esclarecido não vai trazer tantas surpresas. Mesmo assim recomendo que todos assistam (principalmente quem é da área da saúde). 


Eu diria que esse documentário é ideal praquelas pessoas que tem a mentalidade "nos EUA até mendigo fala inglês". Por que mostra um aspecto extremamente negativo da cultura americana.
Eu observo certa dualidade entre as pessoas quando o assunto é Estados Unidos - tem gente que meio que idolatra, mesmo sem admitir (por que virou meio que vergonha "ser paga-pau" dos EUA hoje em dia); gente que odeia, mas a maioria baseada na aula de socialismo que teve na sétima série; e gente que não liga, afinal, pensar e ter opinião é muito chato e complicado mesmo. Quando o furacão Sandy destruiu cidades da costa leste americana, vi muita gente falando "mas os EUA merecem mesmo". Acho que também não é por aí. Nada no mundo é 100% ruim nem 100% bom. Da mesma forma que quem ama os americanos e acha o Brasil uma merda não está correto. Lá, muita coisa dá certo e é extremamente bem organizada - mas a saúde não é um exemplo tão bom.  A maioria das novas técnicas de tratamento, pesquisas importantes e revoluções no conhecimento médico sai de lá - o que é notável - porém o acesso da própria população a isso está bastante precário. Tanto que eles mesmos fazem artigos elogiando nosso tão odiado SUS.
Aliás, SUS é um assunto pra um post a parte. Já vi muita gente ignorante tentando dar uma de "o grande conhecedor das profundezas sociológicas da humanidade" dizer que qualquer tipo de saúde pública no Brasil devia ser abolida, e tudo virar privado. Quem fala isso é o mesmo tipo de pessoa que fez a piadinha do Lula fazer tratamento pelo SUS quando foi diagnosticado com câncer. O pessoal devia parar de pensar só no que a TV passa e procurar saber mais sobre aquilo antes de falar asneira (se fizessem isso, o mundo ia ser muito melhor, né?). O SUS é um sistema extremamente bem organizado, ele só não funciona do jeito que deveria pela falta de competência de certos profissionais, políticos e por preconceito da própria população - que reclama quando o postinho demora 2 meses pra marcar uma consulta, mas quando no plano leva o dobro do tempo, não tem problema.

Enfim galera, é isso. Não esqueçam de comentar, deixar sua opinião e me indicar novos filmes e documentários também. Você também pode seguir o blog pelo feed de email, pelo Google Friend Connect e recomendar com o Google +. E divulgar esse texto e os outros pros seus amigos que possivelmente se interessarão :D

Um abraço a todos e até breve!



4 comentários:

  1. Boa resenha garota... A cometar o inicio do seu post.. Eu tbm tenho essa mania de ficar refletindo sofre fatos, pensamentos, ideias e outras coisas tao correntes no nosso mundo... Sobre o tema do post.. Realmente o SUS e um bom projeto.. Mas infelizmente sofre pressoes politicas, anti eticas e falhas tao comuns no meio publico de nossa nacao.. Esse documentario vem mostrar que a realidade da saude americana chega ser meio macabra.. Bem diferente das imagens vendidas por seriados medicos yankess...
    Bom texto Dra.

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  2. Bacana, bacana. Vou comentar mais sobre a parte final do teu texto. Realmente tem muita gente paga pau de americano, do americano criado pela mídia que critica tudo o que acontece, sem mesmo ter usado o sus e não percebe a realidade, e uns tanto que chegam a ser instruídos, mas são cegos em alguns pontos. Sou aluno de medicina também, o prof de semio falou pra gente ver esse filme hoje, e vendo-o acabei por perceber que a tão mal-dita medicina cubana, que não chega nem perto de ruim, e muitos estudantes a crucificam sem ao menos ver como realmente funciona. Continue com o Blog,
    abraç de um futuro colega de profissão
    AP

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  3. Oi Anuska, assisti ao sicko e para foi muito importante, pois estou no 1º período e não conhecia o sistema de saude dos EUA, achava que, assim como a educação e vários outros setores, fosse exemplar. Sempre assistia programas e documentário com consultas superamparadas, com equipamentos necessários e clientes pessoas ainda que com alguma doença, mas satisfeitas. Enfim, valeu pela sugestão. Abraços.

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  4. Oi Anuska, valeu por postar sobre esse assunto e sugerir o sicko, pois estou no 1º período e antes de assisti-lo, tinha a opnião de que nos EUA não poderia existir algo que não fosse um exemplo. Em todos os documentários sobre atendimentos médicos apareciam equipamentos adequados, uma equipe de profissionais super amparada e pessoas que mesmo doentes estavam satisfeitas. Valeu mesmo... Abraços.

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